quinta-feira, 22 de maio de 2014

Leave some morphine at my door




Daí você deu um suspiro e... dormiu.

Dormiu como todo anjo, dormiu eternamente, descansou seu corpo e sua alma de tanto desgaste na vida... talvez seria mais fácil se tivesse desistido de muitas coisas, deixado de controlar a casa, ser a nossa mãe. Talvez fosse mais fácil se não tivesse lutado tanto para dar passos quando começou a ter problemas de andar. Mas nunca parou.

Nunca parou nada; a mente mais incrível possível. Era uma delícia sentar com você para conversar sobre tudo. Contar curiosidades, enquanto você me contava histórias. Discutir sobre tabus. Futuro. Passado. Brincar. Rir. Ver você ficar bravinha e depois pedir desculpas. Deitar com você após o almoço, receber o melhor cafuné e acordar horas depois. Fazer brigadeiro para compartilhar como ele estava bom, e explicar que coloquei mais creme de leite. O último que comeu você achou sensacional. Ao menos boa lembrança sempre terá. Até dos momentos de "ataque de chocolate", que você me chamava uma vez por semana para abrir o armário secreto com um chocolate secreto para comermos! Ou quando falava que minha mãe era a melhor do mundo, quando falava que eu sou inteligentíssima e não podia deixar de aproveitar meu potencial. Quando falava que eu tava linda - olha, essa é minha neta, ela é linda, não é? Olha como ela é L I N D A!. Melhor eram as noites que gastei com você estudando. Lendo coisas de português, e você me contando como era professora, seus anos de colégio. Iguais a todas as lembranças que contava na mesa. Sempre à noite. Sempre perdia um remédio. E eu deitava no chão atrás dele, vasculhava você, e achava.

Mas bom mesmo era acordar e te dar um beijo. Você não me deixava só beijar. Pedia o meu abraço. O abraço mais gostoso do planeta terra, o mais forte, o melhor. Até que a Shiva aparecia e lambia seu pé, e você dava pití. Do mesmo jeito que me ensinou muitos doces e comida. Amava cozinhar contigo. Amava também estudar pertinho de você. E foi capaz de fazer uma dívida no banco para me ver no Canadá, descobri faz três dias. E quando cheguei estava aqui embaixo - mal andava, e tava aqui! Você e a tia Myriam. Trouxe tanto presentinho para você... o famoso relógio que você levava pra todo lugar, e eu amava te ver com ele... porque eu acertei seu gosto. Você usava até sem bateria. Também amou o batom que trouxe. Amou tudo. E ainda fez brigadeiro. Como uma troca de amores.

Se não bastasse, foi literalmente minha mãe por anos. Quando minha mãe viajava pro Doutorado, me ligava 24/7, e ainda me levou no hospital por uma crise alérgica. Até 7 da manhã. Até eu melhorar. E ainda comentou como o médico era bonito... Me pedia ajuda para fazer tudo: Ovos de páscoa, árvore de natal (amava as minhas), presente pra neto, presente de dias comemorativos... Até que te dei um travesseiro de natal e sempre usou ele. E fazia questão de todo dia me mostrar. E faleceu nele.

Faleceu. E assim se foi. Não achei que os dias seriam tão vazios. Tão dolorosos. Tão perturbadores.
A noite é cheia de lembranças. O silêncio da noite é o pior momento. Ter que ser forte de dia para não deixar ninguém preocupado, ter que aguentar essa barra toda para que minha mãe ou avô não fiquem pior, mostrar ser forte... mostrar uma força que eu não estou tendo. Fantasiar uma postura de quem está bem. E à noite... mostrar pra mim mesma que você não me ensinou a te esquecer. Em silêncio. Abafando choro.

É no silêncio que minha alma chora sua falta. Que meu corpo treme, que eu tento aceitar que tudo passou, vai passar... que você tá comigo. Mas em lembranças.


Escrevo este pequeno desabafo de momentos que passaram por minha cabeça nessa noite. Momentos mínimos perto da imensidão de sete anos morando com você. Por uma semana, fiquei sem falar com você, isso em 2011. E nessa hora você quis reatar e me mandou um lindo cartão com um chocolate, com os seguintes dizeres:
"Muito querida neta Luísa,

Inspirada pelo espírito do amor, quero externar o quanto você, Luísa, significa em minha vida. Ergo um sentimento de gratidão a Deus por haver me concedido uma neta como você. E nesse Ágape de coração, com coração nos permitimos a ação generosa de querer e do cuidar e zelar pela felicidade um do outro.

Tudo isso vem afirmar que o nosso caminho tem um coração e tudo foi feito com muito amor. Sua vó que a ama, a abraça e abençoa

Inspirada pelo espírito do amor, quero externar o quanto você, Luísa, significa em minha vida. Ergo um sentimento de gratidão a Deus por haver me concedido uma neta como você. E nesse Ágape de coração, com coração nos permitimos a ação generosa de querer e do cuidar e zelar pela felicidade um do outro.
Tudo isso vem afirmar que o nosso caminho tem um coração e tudo foi feito com muito amor. Sua vó que a ama, a abraça e abençoa"

E um marca-páginas com um recado:
 "Faça dos empecilhos da vida verdadeiros degraus para o seu sucesso"

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

o mundo dele;


a noite toda passei estudando para a prova de hoje. horas de concentração e dedicação para tentar progredir na matéria. curiosamente, ouvi barulhos; barulhos inquietantes por toda madrugada, uma vez que virei a noite estudando. continuaram até de manhã; não paravam.

assustada, subi no andar de cima da casa pra ver o que era: ninguém abria a porta, ninguém falava, por mais que o barulho já tivesse acabado. eu já estava bem nervosa, ora, isso não é normal. rapidamente, peguei a chave pra abrir a casa.

o mundo dele é bem severo. tento descobrir, não entendo. como diz Machado de Assis em seu livro "Dom Casmurro":" Capitu possuía 'olhos de cigana oblíqua e dissimulada', mas para Bentinho os olhos pareciam 'olhos de ressaca'; 'traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, com a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca,'uns olhos que atráem, e, ao mesmo tempo, não dizem nada e tudo ao mesmo tempo". talvez a doença tenha consumido já seus olhos, já que tentam dizer o mundo, mas somente conseguem expressar nada. mas são estes olhos verdes, olhos enigmáticos, que me deixam aflitas.

eram 4 horas e meia da madrugada. a casa estava revirada; o telefone, jogado no chão. folhas para todo lado, uma cadeira em cima da outra não sei como, o tapete totalmente enrolado, a mesa de pedra pesada torta, a cortina totalmente puxada de maneira brusca e o velho num canto, sentado, dormindo com a mais pura doçura do mundo. a cena foi chocante, parei na hora e fiquei observando.. como pode?

imagino o meu sofrimento, o sofrimento da minha vó, da minha mãe, do nosso vizinho que veio ajudá-lo a fazer tudo.. imagino o de todos. mas o dele, meu amigo, é bem superior. tenho certeza que, por trás dos seus olhos verdes e velhos, há uma alma piedosa que acalanta severos traumas e limites humanos. mas não tenho certeza suficiente, ora, por isso quero entender seus olhos. pobre velho, acho que inquietamente tenta se fechar em um pequeno quarto, se isolando do mundo (claro, psicologicamente, não fisicamente). ninguém o entende, e ele mesmo não sabe expressar de maneira nenhuma. são cenas do dia a dia que me intrigam. às vezes, penso que a vida é difícil. já passei por montanhas de gelo e cavernas obscuras, quem me conhece sabe bem que minha vida sempre foi e sempre será uma luta. venci; hoje estou aqui.

você não daria banho em um doente nem por um milhão de dólares? primeiramente, estamos num mundo onde a aparência e a gozação com o próximo é a intenção que temos a cada momento. precisamos é de menos dinheiro e mais humanidade. precisamos de menos violência e mais respeito. precisamos de menos desenvolvimento e mais amor. isso tupo porque, inevitavelmente, estamos desenvolvendo para uma geração oblíqua e preconceituosa, sem valores éticos e nem morais suficientes para sermos classificados "humanos".

e, de novo: você não daria banho em um doente nem por um milhão de dólares? eu também não, ou talvez. só por amor se dá banho em um doente. uma vez me disseram que a tristeza é algo ruim, realmente ruim.. mas aquele que nunca a viu, nunca reconhecerá a alegria.

Agosto de 2008

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Um semi-deus, talvez, em forma de uma andorinha.


Era como se o ballet clássico tivesse virado uma valsa eterna. Passos semi-áridos e semi-arcos. Semi, somente semi. Nunca completos. Parecia somente metade, um integrante de um par. Sem sintonia. Como se somente agradasse gregos. 

Mas não era culpa do enredo, mas sim, dela mesma. Aquela raposa amava dar importância à sua tão especial andorinha. Era tão linda quando sobrevoava o céu, voava alto, riam juntas... Aquelas asas tão claras, cortando o ar dramaticamente, deslizando como uma gota em uma folha desce ao encontro do chão. A raposa amava correr atrás da andorinha. Nunca a deixava pra trás. 

Uma vez, não há muito tempo, a andorinha teimou em ficar encurralada no pequeno buraco da árvore num dia tempestuoso. A chuva caia muito forte, o céu estava totalmente pálido e cinza, e as gotas e água estavam tornando o ar úmido como o calor de um deserto. Era perigoso ficar ali, ainda mais naquela tempestade. Várias árvores caíam. Mas a raposa não deixou de incentivar a andorinha. Disse que não sairia dali caso a andorinha não saísse de sua toquinha. Disse, também, na linguagem do amor, que a andorinha tinha que criar coragem e partir para lugares melhores, dias melhores. 

Com muito trabalho, a andorinha, timidamente, pôs-se em um galho, abriu as asas. Sentiu as gotas caindo em suas penas fracas - não de força, mas de medo. Mas estava tão certo quanto o erro de ser barco a motor e insistir em usar os remos. Então foi. Foram juntos. Foram lado a lado. Caminhando juntos.

"Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!" - Dizia a raposa para a andorinha, e ambas riam juntas, felizes...

Mas também não há muito tempo, a andorinha resolveu fraquejar, temer dias melhores. A raposa não poderia fazer nada a não ser conquistar aquele breve e inigualável companheiro todos os dias. Todos os dias. Já que o contrato de amizade era eterno. De amor também. Até sabia o que as outras raposas pensavam dela. "Andar com uma andorinha"? E o mesmo perguntavam para a andorinha ("Andar com uma raposa?"). Era fácil criticar quando se está por fora, meros ignorantes da verdadeira amizade durante a nossa mínima e íntima vida na terra. Mas era algo que não abalava tanto. Até porquê a vida tinha significado somente com essa união diferente e especial. 

Foi então que a tribo das andorinhas resolveram não mais deixar que as coisas fluíssem daquela maneira. Era visto que a diferença das espécies traumatizava o bando de andorinhas. Era claro que aquelas garras enormes da raposa, aquele olhar de predador e dentes tremeluzentes e bem afiados criavam um ar desgastante para qualquer outro animal. Mas não entendiam que aquilo tudo era somente uma máscara que a alma da raposa tinha; jamais teria coragem de machucar seu grande amor. Jamais queria algo de ruim para ele. E assim, decidido, a andorinha estava se tornando "semi" para a raposa. "Semi" amiga, "semi" amor, "semi" casal, sem-i. Sem i. Sem. E assim a raposa foi ficando sem forças, sem garras. Já estava afastada demais do seu bando para poder se proteger naquele imenso mundo. Já não via mais amores em seus iguais. Talvez seu mundo agora chamasse "andorinha", porém, foi tirado de si. Até continuou vendo a andorinha. Mas não era mais a mesma coisa. Ambos chateados estavam com aquela situação. "Não vou tentar, não vou insistir, não vou mais jogar, já me cansei. Meu desapego agora é meu sossego" insistia a raposa para seu coração, por mais que quisesse mudar aquela situação. Estavam longe demais. Já não eram os mesmos, e o tempo não tinha mudado. Era fácil entender o menosprezo por parte de ambos, uma vez que as asas não voavam mais e as patas não corriam mais atrás delas. O rastro no céu, daqueles dois animais, foi desaparecendo. A árvore do medo se transformou numa floresta, e a toca, num bando de andorinhas que impediam o voo da mesma. Aquele focinho bem simples e úmido da raposa foi esquecendo como era o cheiro da andorinha, e aqueles olhos de predador já ganhavam o mesmo tom nublado, pálido e cinza que o céu uma vez tivera. Mas a luz não saía mais da toca, com medo. Era tarde demais.

Não se sabe mais sobre a vida da andorinha. Sabe-se sobre a vida da raposa. Ela se encontra por aí, procurando nas florestas outras aves, outros animais, outras raposas... Mas nada é igual àquela que uma vez fora tirada de si. Afinal, ela era a sua única metade.

Toda felicidade é uma forma de inocência. Torna-se necessário (ainda que te escandalize) insistir na palavra felicidade, embora me pareça uma palavra miserável. Nada prova melhor a nossa miséria do que a importância que conferimos à felicidade. À nossas prioridades. E isso só se conquista lutando. Se não lutas, amigo, será eternamente uma andorinha sem sua raposa. Sem sua finalidade de vida. Sem sua outra metade, sua semi-metade. Serás Sem. Serás nada.


sábado, 14 de maio de 2011

Conto de Fadas


- E é isso, minha filha - susurrou o pai, bem perto do ouvido de sua filha, com um timbre de voz bem equilibrado, doce e baixo. - E eles tiveram um final "Felizes para sempre".

- Mas como assim, papai? - indagou a criança - Não é cedo demais para parar de me contar a história?

- Como assim "cedo", querida? Papai tem que trabalhar amanhã bem cedinho e a história acaba aqui, no "Felizes para sempre".

- Não não - falou a criança, segura do que decretava - A história começa aí. Começou agora, e você já quer acabar com ela?


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

minha sombra.


deixei meus olhos nadarem num pequeno pingo d'água, onde vi um vasto mundo que não tinha fim. parecia que todo o universo fora dividido em dois: o meu, e o dos outros. era tão simples, parei para olhar, pisquei várias vezes e nada.. era a mais pura realidade, nada de mentiras ou ilusões desérticas.
pois senti meu coração bater, que já não caminhava no mesmo ritmo lento e suave, mas sim num jazz impiedoso, como se a canção tivesse num ritmo para lá de medieval. uma máquina rugia e trabalhava dentro dele, com muito óleo sobrando, desgastada.. agora machucando, torturando.. impiedosamente. nada mais me importava no momento, muito menos as chuvas de rubis e ágatas que ali deviam cair [se não no meu mundo]. aqueles forasteiros pés, que escaparam já muitas vezes de momentos contundentes e necessários, já não faziam a mesma maratona. e o que falar, se não, das plumas enferrujadas? Pareciam pesadas, cansadas, atadas. o sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz. naquele momento, porém, parecia que minha mente já não tinha o fluxo inesgotável de pensamentos plenos e ligeiros como antes. e, com meus olhos, olhava aquela imagem no pingo d’água. com toda essa degradação, meus olhos fechavam agora lentamente, com um olhar cansado, e de cabeça baixa, aceitava lentamente a situação, assim como as árvores tem que aceitar o nevoeiro e a perda de suas folhas.
porém, as flores renascem. as flores; já não mais eu. sentia o peso daquela física já me explicada mas nunca entendida rebater sobre mim – a gravidade – e, como já não tinha pernas sustentáveis, apoiei em minhas sombras. entendi que a física não é estudada e sim sentida, nada explica a naturalidade do mundo. mundo que, no meu, remoia e distorcia toda a realidade, jogando-a no maior abismo possível e torturando-a com aquela máquina fútil e desgastada dentro de meu ritmo medieval. seria também este o mundo das utopias e das idéias? sei que tempo não tinha, pois ele já corria mais que eu também. durante toda essa minha prosa, o tempo descruza e corre mais que um soneto clássico, e eu, mais uma vez, estava ali para trás, com minha última companhia. ela só não fora embora pelo simples fato de ser agregada em mim enternamente. ah, que os deuses sejam louvados, por mais que não sejam amados.. eu tinha uma companhia nessa minha solitária jornada.
sabemos o que somos, mas não sabemos o que poderemos ser. recuso a repetir, pois ali estava meu melhor companheiro e eu tinha confiança – a ultima restada, se não – de que ele sabia quem poderia ser. sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência. queria ser um ser humano para entender direito sobre a inteligência, mas o que me resta é uma mente animalesca nada útil.
catei minhas rosas floridas caídas no chão, reconstitui uma ferida na minha asa e me virei. eu não procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas. era mais fácil aceitar viver na dúvida do que ter coragem de enfrentar o fim. ali fiquei até ouvir o último sopro da minha máquina medieval, que caíra assim como nero. meu castelo pegou fogo, propositalmente, e eu morri em minha utopia, não tão dançante quanto este último. aliás, estava morto há muito tempo, e fui-me caminhando com passos lentos até o dia em que as árvores já me prendiam, me sugavam, se alimentavam de mim, para que uma nova primavera nascesse.
as nuvens que estão ocupando, neste momento, o céu de sua alma vão passar. o sol, que às vezes se esconde por detrás das nuvens, não passa nunca.
se muito, foram duas rosas.


Fora da fantasia ou dentro da utopia

Existe um largo caminho entre fantasia e utopia: a diferença é que os caminhos são contrários. Isso mesmo. Onde um começa, o outro termina.

A utopia não passa de um paralelismo à loucura, uma fuga da realidade. Seria? Então, para que serve a utopia?
Ela está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Porém, contudo, mas e além do mais, serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Seria a utopia um sentimento? Pode ser, caso ele seja construtivo. A fantasia é um caminho restrito ao interior e a sonhos. Sentimentos também podem ser fantasia.

Eu creio que o amor pode fazer a mais bela das ligações, das mais belas até as mais pequenas... Até mesmo da fantasia e da utopia.




quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa"

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

E o destino, até onde ele "existe"?

Deparei-me com esta questão estes dias. Até onde o destino existe?

Existe até aonde traçamos planos. Faculdade é um plano, um destino. Traçamo-no. Aí que as adversidades do tempo atuam, caso você tome uma bomba no colégio e adie esse sonho traçado. Além de conhecer as pessoas que iria conhecer caso não tomasse bomba, conhecerá novas pessoas. Sairá com novas pessoas. Terá outro círculo de amigos.

Mas a tal bomba pode ser uma influência direta do homem ou também é o destino?
Depende. Você pode traçar sua propria bomba, causar a adversidade da sua vida, ou pode ser por necessidade escolar. Às vezes, uma tragédia pode ter acontecido naquele ano e você não conseguiu unir os fatos, muito menos a vida e a escola. É um caso a parte. Ou seja, ora somos "donos" do nosso destino, ora fatos involuntários ("acaso") são donos deste último.

O destino é como uma larga e enorme avenida: ela tem várias rotas que fluem dela para outros lados, várias ruazinhas. Algumas ruas de terra, que seu carro pode atolar. Algumas ruas normais, que te levam para outra Avenida e, por fim, a eterna avenida. Vale lembrar que os caminhos mais ousados são aqueles que mais podem quebrar seu carro ou despertar a adrenalina...

...porém, sempre levam para outra Avenida.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sonhos em extinção

Mente soberana e incapaz de filtrar pudores revoltosos sobre o ocioso tempo. Inveja? Talvez. Isso depende de quem é o autor dos pensamentos. Varia de ângulo, meio, sociedade, lar. Pudera eu falar o que seria uma mente incapaz de sonhar. Se pudesse, eu sonharia todos os dias, desleixos e complexos, um mar de fantasia. Mas até mesmo os sonhos são enfatizados de realidade, não há sequer um sonho sem um drama metódico, melódico e não-utópico. Não adianta fugir da realidade, ela vem atrás de você com uma foice e te jogando nos pés dela mesma. É como se o abismo fosse nú e crú. Chega de sarcasmo, por um lado, será que não podemos mais sonhar com a realidade? Sonhos infantis, sonhos adolescentes, sonhos humanos.

Acho que nasci na época errada.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Das mudanças

- Já está nublado demais para que discutamos sobre isso. Acha que vai parar de chover? Eu acreditava, não mais...
Era uma tarde nublada e nada poderia freiar as gotas que caíam, ríspidas, do céu. Adiantava de nenhuma maneira rezar para que aquele fenômeno parasse. Ele o encarava com olhos cheios d'água, como aquela gota que caía daquele manto acinzentado sob os dois garotos.
- Mas você me prometeu que tentaria. Dei-lhe motivos, dei-lhe força, mas de nada adiantou ter tentado tarde demais. - fala o outro menino, abaixando a cabeça como se a mesma pesasse uma tonelada. - Tudo que fiz foi me dedicar a você; perdi dias e horas, contudo, ganhei uma vida.

(...)

E, agora, o garoto se encontrava perdido debaixo daquele céu pincelado de cores cinzas. Estava sozinho esperando seu ônibus passar. Carros voam em São Paulo como discos deslizam no ar e, por sorte, encontra, em um vão de folhagens de uma árvore, uma estrela em pleno dia. "Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado. No matter how dark the night, morning always comes, and our journey begins anew". Estes eram os pensamentos que vieram na cabeça do jovem que alí estava esperando seu ônibus diário. Pensamentos estes que aprendera na escola, de algum autor que não se lembrava no momento por malandragem - lembrara que, quando estava na aula de literatura, mais pensava em sua alma gêmea que no nome do dono dos versos - e, então, volta a pensar naquele que domina sua mente. Seus olhos enchem de lágrima novamente e, paralelamente à chuva, suas lágrimas molharam a Avenida Paulista, deixando sua marca inéspita e inesperada naquela grande cidade.

(...)

"Dia 27 de Setembro de 2010

(se escreve Setembro ou setembro? Lembrar de pesquisar sobre isso...voltando ao assunto...)
Caro Diário,
Inerente ao meu pensamento sólido de construção de dias melhores, hoje foi o castigo que o Diabo me devia. Eu sei que xinguei muito meu irmão quando menor, fui chato demais e fiz muita maldade... mas precisava de descontar tudo agora, senhor Diabo?
Estive esperando pelo que me parecia mais propício para o momento, mas as respostas do destino sempre vêm quebrando o sigilo da tristeza. Mistérios ao ar, porém, pelo simples fato de ser alguém bom e honesto, nada muda como uma verdade absoluta. Sou um menino muito dedicado, sempre amei a família como se fosse meu bem mais precioso - e é - e descobri que nada adianta cultivar amizades escolares. Elas nunca vão para frente do jeito que queremos. E o que tiramos disso? Uma queda na perspectiva da felicidade. Não posso depositar minha felicidade nem meus erros nos outros. Tenho que cultivar minha vida e meus valores. O mundo é egoísta, eu sei, e temos que saber jogar com ele antes que ele nos use como seus peões de frente (aqueles que são usados para serem mortos, como íscas, num jogo de tabuleiro).
Mas, acima de tudo isso, eu não consegui evitar um desidratação involuntária de meu corpo. Como é difícil entender a biologia! (grande biologia, que vem tomando as estruturas dos meus neurônios e os fazendo de escravos da ciência estudiosa). Adianta ser a melhor pessoa deste planeta para GARANTIR alguma coisa? Nossa vida é uma sequência de incógnitas, probabilidades, "análises combinatórias" para que se chegue a um fim próximo. Às vezes o fim já chegou e nem percebemos. Mas o fato é que a biologia me pegou denovo num momento desintegrado por um sentimento compulsivo. Eu sei que eu amo aquele menino. Amo, e repito, amo muito. Ultrapassa os entendimentos das ciências. De que adianta isso se mal consigo ajudá-lo em sua felicidade? Dever não cumprido, digo entre linhas penosas. Tentei o avisar da minha filosofia de vida. Temos que lutar por nós. Se não nós, quem será que vai nos ajudar, nos amar, viver conosco, crescer conosco e nos mostrar o que é a felicidade? É um paradoxo que não nos ensinam quando criança. Deveriam nos informar desde cedo que temos que encontrar nossa alma gêmea para que aprendamos a viver.
Voltando ao assunto - muito fugido desde então -, estou aqui dando minha bandeirada da desistência. Nem sempre tudo é como queremos. Mas posso falar que TENTEI. É difícil aceitar a situação, mas, como vos disse, ele [meu amor] é quem sabe em qual estação quer viver. No outono, verão, primavera, inverno... São tão lindas, não? Nem tanto. O inverno congela demais, o verão, abafa demais. já a primavera tem chuvas constantes, e eu não gosto de chuvas, a menos que esteja em casa e quieto. Gosto mesmo é do outono. Nele, eu posso pular, sair, me divertir e curtir o mesmo clima árido o dia todo, sem medo de que alguma imprecisão do tempo chegue a me atingir - a nos atingir. Pena que as folhas do outono sempre cáem. Mas é necessário, entendido que é preciso que haja todas as estações no ano. Afinal, a decisão não é minha. E todos gostam de uma estação.
Eu prefiro pensar no outono. Ele, não sei, só sei que eu o amo nas quatro estações, cada uma com seu jeitinho e sua característica.

Que saudade do meu homenzinho..."

sábado, 25 de setembro de 2010

Sobre a criação

Criações variam de experimentos, textos, artes, idéias, filhos, educação, e essas coisas chatas que aprendemos na escola. Mas esta criação foge da rotina comum. Seria, talvez, uma utopia franca? Náh. É algo bem relacionado a um mundo único de uma simples garotinha, no fim da puberdade, que quer escrever sobre algumas coisas que guardou toda esta vida. Experiências vividas e que ainda viverá... Para ser sincera, o meu mundinho, às vezes meio fora de rotina, mas sempre com um aprendizado...enfim, o blog é minha escapatória mensal para besteirinhas, mente feminina, bem diferente e nada comum! Afinal, as criações são coisas normais ou são invenções?